Ao longo dos séculos, a Igreja Católica testemunhou eventos que desafiam qualquer explicação científica. Milagres de cura, bilocação, incorruptibilidade e visões são parte da rica história da santidade cristã. Mas entre os fenômenos mais impressionantes e enigmáticos, destaca-se a levitação mística: momentos em que santos e santas flutuaram acima do chão durante orações profundas ou êxtases espirituais.
Será possível que almas tão unidas a Deus realmente tenham se desprendido das leis naturais da gravidade? O que a Igreja diz sobre esses casos? E o mais importante: o que isso revela sobre a santidade e a presença divina?
Neste artigo, vamos explorar os relatos mais conhecidos e autênticos de santos que levitaram — não para buscar o extraordinário por si só, mas para refletir sobre o que acontece quando o amor por Deus ultrapassa até mesmo os limites físicos.
O que é a levitação mística e como ela é relatada?
A levitação mística é um fenômeno extraordinário em que o corpo de uma pessoa se eleva do solo de forma sobrenatural, sem explicação científica, geralmente durante estados de oração profunda, êxtase espiritual ou adoração intensa.
Características comuns dos relatos:
- Ocorre em momentos de fusão com o divino, durante orações ou contemplação.
- O santo entra em êxtase, ficando insensível ao ambiente ao redor.
- A levitação pode ser leve (poucos centímetros) ou impressionante (vários metros).
- Nunca é produzida pela vontade da pessoa — é sempre ação divina.
- Em muitos casos, o santo sente vergonha ou pede que o fenômeno não ocorra.
Importante ressaltar: a Igreja não exige acreditar na levitação como artigo de fé, mas reconhece a possibilidade desses fenômenos como sinais extraordinários da ação de Deus.
São José de Cupertino – o “santo voador”
O caso mais conhecido e documentado é o de São José de Cupertino (1603–1663), frade franciscano italiano, canonizado em 1767. Chamado de “o santo voador”, ele levitou centenas de vezes ao longo da vida, muitas delas diante de testemunhas públicas e autoridades eclesiásticas.
✨ Exemplos documentados:
- Durante a Santa Missa, ao elevar os olhos para a hóstia consagrada, era arrebatado em êxtase e erguia-se no ar, com os braços estendidos.
- Em uma ocasião, levitou diante do Papa Urbano VIII, causando comoção entre os presentes.
- Era comum ser visto flutuando próximo ao altar, árvores ou até mesmo no teto do convento. Ele próprio pedia a Deus que o livrasse do fenômeno, pois isso chamava atenção indesejada.
- Por causa de sua frequência, foi impedido de celebrar missas públicas e passou boa parte da vida isolado, em obediência. Mesmo assim, continuava sendo um exemplo de humildade, simplicidade e amor profundo a Deus.
Hoje, São José de Cupertino é padroeiro dos estudantes, aviadores e viajantes, e sua vida continua inspirando fiéis a buscar uma fé que eleva.
Santa Teresa de Ávila – levitações durante oração profunda
Santa Teresa de Ávila (1515–1582), Doutora da Igreja e reformadora do Carmelo, também relatou episódios de levitação em seus escritos. Mulher de profunda vida mística, dizia que, em certos momentos de oração, sentia seu corpo ser suspenso sem controle, contra sua vontade.
🕊️ O que ela dizia:
“Quando Deus deseja, nenhuma força humana pode impedir. Sinto que meu corpo se eleva e não posso resistir, por mais que me agarre às coisas.”
As carmelitas de seu convento confirmavam que, em diversas ocasiões, ela se elevava alguns palmos do chão. Santa Teresa, por sua humildade, pedia frequentemente a Deus que não permitisse que isso ocorresse diante das irmãs, pois não queria parecer especial ou chamar atenção.
A levitação em sua vida era fruto de uma união tão íntima com Deus que o corpo, por assim dizer, “esquecia da terra”.
São Francisco de Assis – êxtase e elevação
São Francisco de Assis (1182–1226), modelo de humildade, pobreza e amor à criação, também é citado entre os santos que experienciaram elevações sobrenaturais durante a oração.
Embora os relatos sejam mais discretos, biógrafos afirmam que seu corpo se erguia levemente durante momentos de profunda contemplação, especialmente ao meditar sobre a Paixão de Cristo.
O fenômeno está associado ao êxtase místico e ao recebimento dos estigmas — as marcas das chagas de Cristo — que o tornaram ainda mais unido à dor redentora de Jesus.
Outros santos com fenômenos de levitação
Além dos exemplos mais famosos, diversos outros santos foram associados a esse fenômeno extraordinário, sempre em contexto de oração intensa ou adoração eucarística:
✨ São Tomás de Aquino
O grande teólogo dominicano foi visto em levitação durante momentos de adoração eucarística, especialmente em seus últimos anos de vida.
✨ Beata Maria de Ágreda
Religiosa espanhola do século XVII, mística e bilocada, também teria levitado durante visões e êxtases espirituais.
✨ São João da Cruz
Companheiro espiritual de Santa Teresa, São João da Cruz era conhecido por sua vida contemplativa e por experiências místicas que incluíam elevações em oração, relatadas por monges e testemunhas de seu tempo.
O que a Igreja ensina sobre a levitação?
A Igreja, ao longo da história, sempre tratou fenômenos místicos com muita prudência. A levitação nunca é vista como prova de santidade, e não é critério para canonização. Ela é considerada uma possível manifestação da graça de Deus — mas o mais importante são os frutos espirituais que acompanham o fenômeno:
Critérios de discernimento:
- O santo continua humilde e obediente?
- O fenômeno leva à conversão e à fé das pessoas ao redor?
- Há testemunhas confiáveis?
- O fenômeno não se torna o centro da vida espiritual, nem é buscado?
A Igreja sempre ensina que os milagres e sinais não são o foco da fé, mas podem ser instrumentos de Deus para tocar corações e atrair almas para Ele.
Quando a alma se eleva, o corpo pode seguir
A levitação dos santos é um símbolo poderoso de que, quando a alma se desprende do mundo e se une plenamente a Deus, até o corpo pode deixar de obedecer às leis naturais. Mas o que mais encanta nesses santos não é o fato de terem flutuado — e sim, o fato de terem vivido com humildade, entrega e amor total a Deus.
Eles não buscaram dons extraordinários, nem queriam impressionar ninguém. Pelo contrário, suas maiores virtudes eram a obediência, a caridade e a fé simples. A levitação foi apenas um reflexo da leveza de quem já vivia para o céu, mesmo habitando na terra.
Você já sentiu sua alma mais leve durante um momento de oração?
Talvez não levitemos como os santos, mas quando oramos de verdade, quando amamos profundamente, nos elevamos espiritualmente, nos aproximamos de Deus, e tocamos o céu com o coração.
E isso, sim, é o verdadeiro milagre.
